A formação de um médico já é reconhecidamente uma jornada longa e de muito estudo. Após seis anos intensos entre os ciclos básico, clínico e o internato, a residência é a etapa de aprendizado obrigatória para se tornar um especialista. Por mais dois anos, o profissional passa por uma imersão na área escolhida. Imagine, então, cumprir esse período em meio aos desafios impostos pela pandemia de Covid-19? A doença, ainda pouco conhecida para toda sociedade científica, ditou o ritmo e definiu o perfil dos residentes. “Aqueles que enfrentam essa doença estão capacitados para trabalhar em qualquer situação, em qualquer lugar do mundo. São profissionais muito bem formados, que tratam pacientes com complicações múltiplas e complexas”, afirma Sônia Confortin, preceptora da residência Clínica médica do Hospital Norte Paranaense, o Honpar.
Uma dessas residentes que enfrentou a pandemia cara a cara é a médica Caroline Lopes de Lima, que está no segundo ano de estudos. O período de sua especialização coincidiu exatamente com o início da disseminação da doença. Num primeiro momento, ela estranhou o pronto socorro vazio, enquanto o coronavírus ainda era somente uma ameaça. “Lembro daquele telefonema que falava do primeiro suspeito da doença. Era noite e o ambiente estava demasiadamente pacato. O corpo gelou, o sentimento era um misto de ansiedade, medo e inquietação. Enquanto aguardávamos a chegada do paciente, vestimos nossas roupas de batalha e esperamos aflitamente”, lembra. O primeiro paciente foi alarme falso, mas era o indício de que a doença estava bem próxima.
Os meses seguintes foram dignos de uma guerra. Porém, sem armas e com um inimigo invisível. O uniforme correspondia à gravidade da situação: touca, máscara, face shield, privativo, capote e propé. “Me questionava se daria conta. Ninguém avisou que eu, recém-formada, iria viver todo esse pesadelo. Foram meses de muita dedicação, estudo e trabalho. Dias muito tristes, de choro fácil, alguns outros de reconhecimentos e vitórias. Horas e horas ao lado do paciente”, lembra, com afetividade, a residente que faz um balanço positivo, apesar de tamanha luta. “Levo uma quantidade exorbitante de conhecimento e crescimento pessoal e profissional. Sou imensamente grata por ter tido a oportunidade de viver e fazer parte ativamente desse espaço temporal e evoluir tanto a partir disso”, aponta.
O Honpar oferece especialização nas áreas de Anestesiologia, Cardiologia, Cirurgia Geral, Cirurgia Vascular, Ortopedia e Traumatologia. Mas, para a batalha contra a Covid-19, foi a Clínica Médica que esteve à frente do processo. Segundo levantamentos prévios, de março de 2020 até agosto, foram mais de 3.000 internamentos. Um volume expressivo para a equipe. “Fizemos um trabalho ortodoxo, baseado em evidências, sem promover experimentos. Apesar das pressões, seguimos a ciência. Um professor não pode entrar na moda, com influências externas”, lembra a preceptora do Honpar.
Sônia Confortin afirma que há um ganho médico com a pandemia. “Aprendemos muito. Hoje parece que as coisas são mais fáceis, especialmente com outras doenças. A Covid-19 nos levou a tratar casos extremos, o que nos deu perspectivas novas para outras enfermidades. Aprendemos muito com os pacientes, na parte científica, lendo artigos, e tentando entender da fisiologia ao tratamento, medidas diagnósticas. A união da equipe fez diferença”, aponta. Uma luta que ainda não se encerrou.