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A mãe escocesa que virou fenômeno nas redes sociais ao ser ‘honesta’ sobre vida em família

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O ditado diz que ser mãe é padecer no paraíso. Mas, em tempos de superexposição nas redes sociais, parece que todo mundo leva uma vida perfeita.

Menos a escocesa Gill Sims.

Cansada de tudo o que via, desde fotos meticulosamente editadas às cozinhas tão arrumadas que pareciam ter saído das páginas de uma revista de decoração, ela decidiu dar um basta na ilusão do mundo virtual.

Gill criou um blog, Peter and Jane, no qual contava as agruras da maternidade e da vida em família.

Rapidamente, ela se tornou um fenômeno.
Recheados de ironia, seus posts diários no Facebook sobre o cotidiano de “mamãe, papai, seus dois filhinhos e seu ‘cachorro julgador'” mobilizam milhares de seguidores.

Em um deles, escrito recentemente, Gill descreveu o que chamou de “grande catástrofe”, quando seu marido “muito ocupado e importante” perdeu as chaves do carro.

“Mamãe está cansada de ser cobrada para achar as coisas, e disse ao papai que procure suas próprias chaves.”

“Mas está tudo bem, porque Papai tem um método especial de procurar as coisas, que envolve perambular pela casa soltando fogo pelas ventas, gritando e culpando todo mundo por ter perdido as chaves do carro.”

No mesmo post, Gill conta que acabou achando as chaves no bolso do jeans do marido (“é claro”), além de 40 libras (R$ 160) em dinheiro, que ela tratou de embolsar como “recompensa”.

“Mamãe vai gastar sua recompensa inesperada de 40 libras em um gim caro”, escreveu ela. “Mamãe não vai compartilhar o gim caro com Papai, mas ela talvez quebre a cabeça dele com a garrafa vazia quando tiver entornado tudo.”

Identificação
Em entrevista à BBC, Gill, que é engenheira e trabalha para uma empresa de software, diz que o blog surgiu como “uma brincadeira leve, na verdade, sobre o dia a dia e as partes chatas da maternidade, do casamento e da família.”

Ela conta que a ideia de escrever os posts surgiu depois de brincar com uma amiga sobre os infortúnios pelos quais passava. Mas ficou impressionada com a reação que recebeu de outros pais.

“Nunca planejei transformar isso no que acabou se transformando”, disse ela. “Acho que fiz isso porque era tão legal ver que havia tantas outras pessoas sentindo o mesmo, fazendo as mesmas coisas, tendo as mesmas experiências.”

O divisor de águas foi um texto que ela escreveu sobre “um dia típico na sua família” durante as férias das escolas dos filhos no ano passado.

No Facebook, a publicação foi compartilhada 67 mil vezes.

“Estávamos na metade de julho e escrevi um post sobre o dia que não terminava. Falei sobre todas as coisas que você acaba fazendo durante as férias escolares para entreter seus filhos e, ao mesmo tempo, tem de manter a casa funcionando e tudo mais. Aí o seu marido chega em casa e diz: ‘o que você fez hoje?'”, lembra Gill.

“Por alguma razão, que eu não sei explicar, foi esse o post que realmente viralizou. Não sei nem dizer se era um texto bem escrito ou o melhor que já havia feito. Mas, por algum motivo, pareceu que as pessoas se idenficaram com ele.”

Outro texto de Gill sobre depressão pós-parto, no qual ela recorda ter sido abordada por dois policiais enquanto carregava seu filho aos prantos no carrinho às 2h, também teve grande repercussão nas redes sociais.

“As pessoas se sentiram identificadas e falaram sobre suas próprias experiências, pela primeira vez, em muitos dos casos”, afirma.

“Muita gente também me mandou mensagem para dizer ‘foi assim que me senti, mas nunca pude traduzir em palavras’. Neste sentido, acho que post é provavelmente um dos quais considero muito bons, já que pareceu ter ajudado muitas pessoas”, acrescenta.

Gill termina a maioria de seus posts com uma foto de que reúne álcool e seu border terrier Buddy, mais conhecido pelos leitores como “cachorro julgador” – aliás, Buddy ficou tão popular que agora tem sua própria página.

“Alguns dias não faço ideia do que escrever, é mais do tipo: vamos ver o que vai acontecer.”

“Em outros, fico mais inspirada, mas às vezes apenas escrevo sobre a bobagem que meus filhos queridos ou meu marido querido vão fazer hoje”, brinca.

‘Mães reais’
Gill diz que seus filhos, que estão em idade escolar, não querem aparecer no blog – eles são identificados como “Criança Menina” e “Criança Menino”.

Mesmo assim, ela acaba recebendo elogios nos portões da escola.

“Gente que nunca falou comigo antes vem me dizer que realmente gostou da minha iniciativa. A imensa maioria das reações é positiva. As pessoas acham engraçado, sentem que o que escrevo reflete a experiência delas”, afirma.

“Mas, como tudo na vida, não existe unanimidade. As críticas negativas costumam vir de – e sei que isso vai soar mal – algum homem ranzinza dizendo que eu deveria fazer algo produtivo ou coisa assim. Mas esse tipo de comentário é raro.”

Seu blog costuma ser comparado aos de outras mães britânicas que foram sondadas para escrever livros após o sucesso de seus blogs sobre “maternidade real”. Gill admite ter alguns projetos em mente, mas não diz se vai se juntar a elas no mercado editorial.

“De vez em quando somos mães zangadas, mas acho que somos apenas mães reais, mães honestas e mães levemente frustradas”, resume.

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