A mineradora Vale anunciou que pretende mudar a forma como a empresa é controlada: a ideia é não ter mais alguns grandes acionistas concentrando a tomada de decisões. O objetivo é melhorar a governança corporativa, ou seja, a relação entre a administração da empresa e os acionistas, aumentar a transparência e evitar interferências do governo federal na mineradora.
Analistas e investidores aprovaram o anúncio: as ações da empresa (VALE3, VALE5) chegaram a subir mais de 6% nesta segunda-feira. Veja qual a recomendação de especialistas para quem já tem ações da mineradora e para quem pensa em investir nelas.
Já tenho ações: melhor vender ou manter?
Quem já investe nas ações preferenciais (VALE5), com prioridade na distribuição de dividendos, ou nas ordinárias (VALE3), com direito a voto em assembleia, não precisa vendê-las agora para aproveitar a alta e embolsar o lucro.
É possível manter as ações na carteira por mais algum tempo, dizem os especialistas. “Além dessa boa notícia de hoje, a Vale vai divulgar balanço na quinta-feira. A expectativa é que o resultado seja forte por causa da alta do preço do minério de ferro e do aumento da produção da mineradora nos últimos meses”, diz o analista da XP Investimentos Marco Saravalle.
Não tenho ações ainda: compro agora?
Os analistas recomendam cuidado para quem se empolgou com a alta e quer comprar as ações apenas para especular e ganhar dinheiro no curto prazo. Nos últimos 12 meses, as ações da Vale já subiram quase 300%.
“A verdade é que o trem já passou. O melhor agora é esperar as ações corrigirem um pouco dos ganhos [baixarem um pouco] e aproveitar uma janela de baixa nos preços para comprar, mas com foco no longo prazo”, afirma o analista da Upside Investor Pedro Galdi.
É uma boa opção para o longo prazo?
Se os planos de investimento são de longo prazo, num horizonte de pelo menos três anos, os papéis da mineradora continuam promissores, dizem os analistas.
“As perspectivas a longo prazo ainda são muito boas, mas não se deve esperar uma alta da mesma magnitude que vimos nos últimos meses”, afirma Saravalle.
“Acredito que os fundamentos da companhia ainda justificam uma elevação nos preços entre 20% a 30% neste ano, tendo em vista o aumento na capacidade de produção feito pela Vale no fim do ano passado e a alta qualidade do seu minério de ferro em comparação aos concorrentes internacionais.”
Ele diz que sua projeção de alta ainda não considera os eventuais ganhos que a companhia poderá ter com as mudanças estruturais anunciadas hoje.
“A Vale é negociada com desconto [as ações estão ‘baratas’] em relação aos seus concorrentes internacionais, como a BHP Billiton e a Rio Tinto, por causa de ‘jabuticabas’ como as ações preferenciais, que dificultam a comparação entre a Vale e as companhias estrangeiras. Esse tipo de ação praticamente só existe no Brasil. Nos Estados Unidos e Europa, as grandes empresas possuem apenas ações ordinárias, com direito a voto.”
Como será a mudança
Segundo informações divulgadas nesta segunda-feira (20) pela Vale, os acionistas que têm ações preferenciais classe A (PNA) poderão convertê-las em ordinárias (ON). Para cada ação PNA, o investidor receberá 0,9342 ação ON e passará a ter direito a votar nas assembleias da companhia.
A data para a conversão ainda não foi definida, porque a proposta feita pelos controladores da Vale ainda depende de aprovação em assembleia por todos os acionistas.
Além disso, a Vale deverá ingressar no Novo Mercado da BM&FBovespa, um segmento da Bolsa de Valores que tem regras mais rigorosas para as empresas e garante maior proteção aos acionistas minoritários.
Todo esse processo de transição da estrutura atual, com bloco de controle, para um modelo de corporação ainda deverá levar pelo menos três anos, segundo a proposta apresentada. Portanto, ninguém precisa ficar preocupado com mudanças bruscas na administração.
Menos interferência do governo
As mudanças na estrutura societária tornarão a Vale uma corporação, ou seja, a empresa deixará de ter um controlador ou grupo de controle definido. Isso reduz a possibilidade de conflitos de interesse dentro da companhia e favorece a participação de todos os acionistas nas decisões estratégicas da mineradora.
Atualmente, a Vale é controlada pela Bradespar (empresa de investimentos do Bradesco), pela japonesa Mitsui, pela BNDESPar (empresa de investimentos do BNDES) e pelos fundos de pensão Previ (dos funcionários do Banco do Brasil), Petros (da Petrobras), Funcef (da Caixa Econômica Federal) e Fundação Cesp (dos funcionários da Cesp).
Embora seja uma companhia privada, o governo ainda exerce influência sobre a empresa, por meio do BNDESpar e dos fundos de pensão das estatais. Na semana passada, o presidente Michel Temer disse que a escolha do futuro substituto de Murilo Ferreira na presidência da Vale não terá ingerência política e irá considerar critérios de mercado. Ferreira foi indicado para o posto em 2011, com aval da ex-presidente Dilma Rousseff.
“Ao se tornar uma corporação, ou seja, sem a figura de um controlador, a ingerência política deve diminuir, melhorando a percepção de risco do investidor sobre a empresa”, diz o analista da XP Investimentos Marco Saravalle. “Isso vai gerar valor para todos os acionistas, inclusive para os atuais controladores.”
Ações pulverizadas e conselheiros independentes
Os fundos de pensão e os demais acionistas que hoje integram o bloco de controle continuarão como acionistas da Vale, mas suas participações serão pulverizadas, ou seja, eles não exercerão mais seu poder de forma unificada. Pelas novas regras, nenhum acionista da empresa poderá concentrar mais de 25% do capital da companhia.
Outra medida que a Vale pretende adotar é a escolha de pelo menos 20% dos membros do conselho de administração de forma independente, ou seja, profissionais de mercado sem vínculo com nenhum acionista. A medida favoreceria o interesse de todos os acionistas e também colabora para melhorar a governança corporativa.
Entenda alguns termos curiosos do mercado financeiro
2 / 9Eduardo Knapp/Folha Imagem
PREGÃO – É o jargão usado para definir o período do dia em que a Bolsa funciona para negociações à vista. Segundo o professor da FIA (Fundação Instituto de Administração) José Carlos Luxo, o termo vem de “apregoar”, surgido na época em que as operações eram anunciadas em viva voz no ambiente central da Bolsa. A expressão continua sendo usada mesmo depois de 2005, quando o pregão viva voz deixou de existir, dando lugar ao pregão eletrônico