Frankfurt am Main, 18 Nov 2016 (AFP) – A Volkswagen anunciou nesta sexta-feira que vai suprimir 30.000 postos de trabalho em todo o mundo, possivelmente alguns no Brasil, como parte de um plano do grupo para recuperar a rentabilidade após o “dieselgate”, o escândalo dos carros com motores adulterados para evadir controles de emissões.
“A marca Volkswagen não dá dinheiro suficiente”, afirmou o presidente Herbert Diess, em entrevista coletiva na sede da empresa em Wolfsburgo.
O executivo explicou que o objetivo é reduzir em 3,7 bilhões de euros (US$ 3,9 bilhões) por ano os gastos até 2020.
Mais de dois terços dos cortes (23.000) devem acontecer na Alemanha. Fora da sede, as demissões podem afetar Brasil e Argentina, dois mercados que passam por dificuldades atualmente.
“Eu sinto muito pelos afetados, mas a situação nos deixa apenas uma pequena margem de manobra”, declarou Diess.
O grupo Volkswagen, que tem quase 600.000 funcionários em todo o mundo, controla 12 marcas, entre elas Audi, Porsche, Seat e Skoda.
A eliminação de postos de trabalho deve acontecer por meio de aposentadorias antecipadas.
A diretoria do grupo também informou que deseja criar 9.000 empregos em suas fábricas na Alemanha, nas quais pretende investir nos “próximos anos” 3,5 bilhões de euros, especialmente para reorientar as atividades para o setor elétrico.
A empresa foi afetada há pouco mais de um ano pelo escândalo conhecido como “dieselgate”.
“Sem o ‘dieselgate’ [o grupo] teria esperado” para se reorganizar, disse o especialista do setor Ferdinand Dudenhöffer à rede de televisão NTV. Este plano “dói, mas é uma boa decisão”, assegura.
“O grupo deve reduzir gastos por sua produtividade fraca, mas também com os custes vinculados com o ‘dieselgate'”, explica Frank Schwope, do banco LBBW.
A crise dos motores com softwares adulterados explodiu em setembro de 2015, quando a montadora alemã foi acusada de ter utilizado em 11 milhões de veículos a diesel um dispositivo manipulado para apresentar resultados menos poluentes durante testes de emissões.
Após a revelação do escândalo, a ação da Volkswagen caiu quase 40% em dois dias. Os investidores sofreram grandes perdas e pedem agora bilhões de euros à Volkswagen.
O grupo alemão reservou 18 bilhões de euros para enfrentar as consequências do escândalo, mas analistas acreditam que a conta final global será muito mais elevada.
Além disso, o caso obrigou o grupo a revisar sua estratégia. Em junho, a Volkswagen anunciou que queria comercializar mais de 30 veículos integramente elétricos antes de 2025, o que requer grandes investimentos.
O anúncio do corte de empregos teve pouco impacto na Bolsa de Frankfurt, na medida em que a ação do grupo ficou praticamente estável durante toda a sessão.