Apesar de as investigações sobre o acidente aéreo que vitimou oito pessoas na noite do último domingo (31) terem apenas começado, uma das principais hipóteses é falha em um dos motores da aeronave. O problema mecânico teria sido comunicado à torre do aeroporto Governador José Richa pelo piloto do Embraer 820 Navajo prefixo PT-EFQ, Antônio Viçoti. O avião explodiu após colidir contra o barracão de uma transportadora no Jardim Novo Bandeirantes, em Cambé (Região Metropolitana de Londrina).
Piloto há 23 anos e presidente do Aeroclube de Londrina, Jonas Liasch esteve no local do acidente e também teve acesso aos áudios divulgados nesta segunda-feira (1º) que trazem a comunicação entre Viçoti e o controle de tráfego aéreo. “É importante que se faça uma distinção entre o controle e a torre de comando. A primeira trata apenas da aproximação e afastamento dos aviões. Nestes áudios, o piloto não confirma a emergência. É bem provável que o tenha feito com a torre, mas ainda não conseguimos os áudios desta comunicação. Até onde pudemos perceber, o procedimento do controle foi correto, uma vez que o piloto não declarou emergência durante a aproximação. Duvido muito que estivesse com problemas antes de chegar a Londrina”, afirma.
Ainda segundo o especialista, o bimotor já estava muito próximo do solo quando teria acontecido a falha em um dos motores. “Nos áudios do controle conseguimos verificar que ele estava a aproximadamente 1.400 metros em relação ao nível do mar. Se descontarmos a altitude de Londrina, que varia de acordo com a região da cidade, mas fica próxima de 600 metros, a aeronave já estava a 800 metros do solo quando o contato com o controle foi interrompido. Com uma pane a esta altitude, não há muito o que fazer. Existe a crença de que este tipo de aeronave consegue voar com apenas um motor funcionando, isto até acontece, mas em maiores altitudes e ainda com muita dificuldade. No caso de ontem, seria muito difícil, com esta altitude, conseguir evitar a queda. Ainda mais com o peso [o avião estava com oito pessoas, lotação máxima] e com a baixa velocidade que ele vinha desenvolvendo para se aproximar da pista. Além disso, era noite e ele sobrevoava uma área urbana, dificultando ainda mais um eventual pouso forçado”, explica.
Liasch ressalta que o momento exato da suposta pane só poderá ser apontado durante as investigações da Aeronáutica, que terá acesso à comunicação da torre e também poderá encontrar indícios no que restou dos motores. “Este tipo de aeronave não tem caixa preta, o que dificulta ainda mais a investigação”, ressalta.
No Registro Aeronáutico Brasileiro (RAB), o Embraer 820 Navajo PT-EFQ estava homologado para voar com até oito pessoas. No domingo, o avião transportava o piloto, Antônio Viçoti, o copiloto, Henrique Moisés Cardoso, e seis passageiros. “Este modelo provavelmente foi fabricado em 1975 ou 1976 e pode transportar, de acordo com a configuração, até 10 pessoas. Na ocasião, ele estava dentro dos conformes e até levava um copiloto, o que não é exigido para este tipo de aeronave”, diz.
De acordo com informações do superintendente da Federação Nacional dos Trabalhadores Celetistas nas Cooperativas no Brasil (Fenatracoop), Rafael Miguel, o modelo Navajo prefixo PT-EFQ havia passado por uma manutenção há apenas cinco dias em uma oficina em São José do Rio Preto (SP). A aeronave pertencia à federação.
Vítimas
Entre os passageiros estavam Maria Cândida Castro Viana Pereira, de 15 anos e Maria Clara Castro Viana Pereira, de 7. A mãe de ambas, ex-mulher do presidente da Fenatracoop, Mauri Viana, aguardava as filhas no aeroporto Governador José Richa. A escola na qual as meninas estudavam cancelou as aulas desta terça (2).
Também estavam no avião Miguel Viana Barion, de 9, e sua avó, Marilene Ribeiro dos Santos, outra ex-esposa do sindicalista. A mãe de Miguel estava com Mauri Viana em outra aeronave de pequeno porte que saiu de Cuiabá para Brasília momentos antes do PT-EFQ decolar.
Josenir Ribeiro Santos Costa e Cleusa dos Santos Machado, respectivamente irmão e cunhada de Marilene, completam a lista de vítimas fatais.
No final da tarde desta segunda, seis corpos foram liberados pelo Instituto Médico-Legal (IML) de Londrina. Os de Josenir e Cleusa serão entregues aos familiares apenas na terça (2). A identificação foi possível graças a informações sobre estatura e características físicas das vítimas, além de acessórios que resistiram ao fogo.
Investigação
Integrantes do Quinto Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Seripa V) estiveram no local do acidente na tarde desta segunda para fazer uma análise preliminar e coletar materiais que possam auxiliar as investigações. O capitão Marlon da Fonseca Sampaio, investigador do Seripa V, destacou que foram feitas imagens do barracão atingido pelo avião e foram recolhidas peças do bimotor.
“A gente está recolhendo motores e hélices para uma perícia inicial para juntar ainda com outras informações da torre de controle e comunicação, imagens de radar e poder solucionar o acidente. O objetivo do Cenipa [Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos] nunca é identificar um culpado. A gente sempre tem o objetivo de entender por que aquele acidente aconteceu e fazer com que esse tipo de ocorrência não volte a acontecer novamente”, explicou. Os profissionais do serviço regional (Seripa) coletam informações e repassam o relatório parcial ao Cenipa, responsável por concluir os relatórios sobre os acidentes aéreos no Brasil.
As peças da aeronave foram retiradas do barracão e transportadas para uma oficina mecânica com a ajuda de um caminhão. O local não foi revelado pelos investigadores. Sampaio confirmou que o piloto identificou problemas em um dos dois motores da aeronave. A pane foi comunicada de 10 a 15 minutos antes queda. “O pessoal da torre de Londrina nos informou que a aeronave declarou emergência e que um dos motores não estava funcionando. É uma linha para a gente seguir, mas tudo é muito preliminar ainda”, afirmou.
Imagens das câmeras de segurança do barracão também serão verificadas. Não há prazo para a conclusão dos trabalhos. “A gente vai pedir para o pessoal da aeronáutica fazer a abertura do motor, fazer a análise para ver por que o motor falhou e, a partir de então, juntamente com outras informações, fazer os nossos relatórios e enviar para o Cenipa. […] É um processo um pouco demorado e é bom que seja para que a gente faça um bom trabalho e consiga chegar realmente ao que aconteceu”, concluiu. (Colaborou Viviani Costa, da Folha de Londrina)