Sístole e diástole , as lições do coração – Por Cláudio Silva
Você se recorda das lições sobre Sístole e Diástole que aprendíamos nas aulas de ciências? Até fazíamos experiências com bexigas infláveis. Numa explicação superficial, na sístole há a contração do músculo cardíaco, para que o sangue seja bombeado para fora do coração. E na diástole esse músculo relaxa e o coração se enche de sangue.
Vários dos nossos ex-alunos fixaram bem uma reflexão que fazia com eles em sala de aula, e hoje, anos depois, quando nos reencontramos, já formados, fazem questão de mostrar que não a esqueceram.
Contração e relaxamento, dois movimentos essenciais para a vida. Se o coração estacionar em sístole você morre. O mesmo, se o fizer em diástole. A vida humana depende dessa articulação harmoniosa.
O que também nos permite abstrair que para se viver bem, é preciso harmonizar esses dois movimentos. Em determinados períodos, a própria vida parece nos impor concentração quase que total. É o jovem estudante que sonha com uma profissão; e quem já o conseguiu, a solidificação e o reconhecimento profissional; ou o casal que luta para se estruturar financeira e patrimonialmente. Etapas que se assemelham ao trabalho do agricultor que prepara a terra, lança a semente e trabalha, dia após dia, a sua lavoura. São, normalmente, épocas de muitos sacrifícios, renúncias e acima de tudo dedicação, sem o que, dificilmente, qualquer projeto será concretizado.
Neste exato momento em que você lê esta crônica, os “medalhas de ouro” dos próximos Jogos Olímpicos, os que subirão ao pódio, já estão definidos. São aqueles atletas que, de há muito, já estão se preparando dedicadamente, enfrentando toda sorte de sacrifícios. Sabia que mesmo nos dias frios, os grandes atletas da natação mantêm uma rotina de treinamentos, começando a nadar bem cedinho, quando muita gente ainda nem saiu da cama? Uma rotina disciplinada de treinos pesados e períodos de repouso, todos os dias. Tempos depois, sobrevirá, com certeza a “diástole”, a colheita, a consagração. E é importante perceber que a “colheita” não vem toda de uma só vez. De início, vem tímida, e aos poucos vai crescendo e se tornando cada vez mais abundante, na medida em que a disciplina entre trabalho dedicado e períodos de pausa é mantida. É assim na vida. Marcel Proust chegava a se trancar em seu quarto, cujas paredes forrou de cortiça para evitar ruídos, e escrever sua única e magistral obra “ Em busca do tempo perdido”.
Observe que na labuta diária do trabalhador ou do estudante, se não houver determinação, zelo, empenho e dedicação total nas horas em que se exige “sístole”, o que esperar do futuro? Possivelmente apenas as “sobras” da vida, o que é muito triste quando está em jogo o nosso dom mais precioso. E todo período de sístole, requer momentos de “diástole”, a necessária variação do ritmo com atividades que possam proporcionar a recuperação e a harmonia do corpo e da mente.
Infelizmente, muitos não aprenderam essa lição e vivem ou em “sístole” total, correndo alucinados como um carro que roda indefinidamente sem parar, esquecendo-se de que “paradas” são necessárias, se não as panes serão inevitáveis. Como o atestam as estatísticas crescentes de mortes por infarto. Outros, por outro lado, vivem em “diástole” eterna, como se não houvesse amanhã. E quando acordarem, se o fizerem, já será muito tarde, e, parodiando Chico Buarque de Holanda na canção Carolina, “o tempo passou na janela e só Carolina não viu”! Apesar de vivos, não aconteceram, infartaram na vida!
Pense nisso!
*Cláudio Silva é mestre em Educação, professor e conferencista, ex-presidente da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação-UNDIME/PR,ex-Secretário de Educação de Apucarana-Pr. Diretor da Escola Nossa Senhora da Alegria