Desde a chegada de Ratinho Junior em 2016, o PSD se consolidou como principal partido da política paranaense. Duas eleições seguidas no comando do Governo do Paraná e em 2020 conquistou 128 das 399 prefeituras do estado.
Mas as eleições de 2024 apontam que a concorrência dentro do eleitorado de centro-direita e direita paranaense deve aumentar. O União Brasil de Sergio Moro e o Progressistas de Ricardo Barros lançaram candidatura própria em várias praças importantes do Paraná em uma prévia dos embates pela sucessão de Ratinho no Palácio Iguaçu.
Em Curitiba, Eduardo Pimentel tentará o terceiro mandato consecutivo do PSD na capital paranaense, mas terá como adversários os deputados estaduais Ney Leprevost (UNIÃO) – que conta com Rosângela Moro como vice, e Maria Victoria (Progressistas) – filha de Ricardo Barros.
Outra praça com confronto entre os partidos é Maringá. Eduardo Scabora também tenta o terceiro mandato seguido para o PSD, mas enfrentará o ex-prefeito Silvio Barros (PP) – outro membro da família Barros, sendo irmão de Ricardo.
Para o Doutor em Ciência Política e professor do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Emerson Urizzi Cervi, esse crescimento de outras legendas dentro do mesmo espectro ideológico se dá pela necessidade de governabilidade na Assembleia Legislativa do Paraná (Alep).
“O partido do governador tem que contar com o apoio de outros partidos e, portanto, a força do governo é dividida nesses partidos e isso faz com que, muitas vezes, o partido do governador tenha um desempenho menor do que se imaginava, principalmente quando o governo é formado por uma aliança de um grande número de partidos. Hoje são três partidos disputando esse espectro que é o espectro majoritário do eleitorado paranaense”, explica.
Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o PSD terá 260 candidatos a prefeito e 116 a vice-prefeito no Paraná. Ou seja, estará presente na disputa em cerca de 95% das disputas municipais nas Eleições 2024.
Nesse cenário, União Brasil e Progressistas devem disputar a segunda posição entre as legendas com mais prefeituras no Paraná. Esse confronto também servirá como base para o estabelecimento de palanques com foco na disputa pelo Governo do Estado em 2026.
“O Progressistas tem candidatura, mas não é candidatura viável em Curitiba. Mas eles estão disputando muitas prefeituras do interior e também participam do governo. Então eu diria que esses três partidos, considerando o Paraná como tudo e não só Curitiba, que o Progressistas tenha até um melhor desempenho que o União”, prossegue Cervi.
A esquerda no PR é ameaça ao PSD?
Se dentro da centro-direita e direita o PSD registra o crescimento de adversários, será que a esquerda também representará dificuldades em 2024 e 2026?
Para Cervi, o trabalho de fortalecimento da base de governo feito por Ratinho Junior auxiliou na desarticulação da esquerda no Paraná desde 2018.
“No Paraná, a esquerda é mais uma oposição ao governo e sempre foi identificada mais com o MDB do que com partidos mais à esquerda. E embora o MDB continue tendo força no interior, ele perdeu a identidade estadual, que estava ligada a figura de Roberto Requião. Quando o Requião perdeu espaço dentro do MDB, o MDB se aproximou do governo Ratinho. O que nós estamos vendo hoje é uma neutralização da esquerda por adesão ao governo”, pontua.
Ao menos nas eleições municipais, a esquerda no Paraná tem os principais nomes lançados em Curitiba. Requião no recém-criado Mobiliza e a aliança de Luciano Ducci (PSB) e Goura (PDT) com a Federação Brasil da Esperança, composta pelo PT, PV e PCdoB.
Nomes relevantes do PT no Paraná como Gleisi Hofmann, Carol Dartora, Renato Freitas, Requião Filho e Tadeu Veneri não abdicaram dos cargos no legislativo estadual e federal para disputarem as eleições municipais deste ano.
‘Bolsonarismo raiz’ x ‘Bolsonarismo lavajatista’
O PL se consolidou como um dos principais partidos do país graças ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Mas no Paraná, a legenda não tem se colocado na briga pelas principais praças. Uma das exceções é Cascavel, com o ex-deputado federal Renato Silva na disputa.
“Essa força eleitoral do PL, que é nacional, ela não consegue se replicar nas eleições municipais. Tanto assim que se você pegar o PL do Paraná, esse bolsonarismo paranaense, que está principalmente em Curitiba, não lançou candidato. Mais do que isso. Esse bolsonarismo se dividiu em dois”, analista Cervi.
Essa presença do ‘bolsonarismo’ se dá por dois candidatos a vice-prefeito em Curitiba. Paulo Martins foi candidato ao Senado em 2022 e aceitou ser vice de Eduardo Pimentel neste ano e Rosângela Moro se licenciou do cargo de deputada federal (UNIÃO-SP) para integrar a chapa de Ney Leprevost.
“Tem o bolsonarismo raiz, que decidiu ser vice de um candidato que é exatamente o contrário do que o bolsonarismo prega, um candidato de uma família tradicional da política. A outra parte é o bolsonarismo lavajatista, que embarca na candidatura como vice do Ney Leprevost, que durante a Lava Jato nem foi um grande defensor assim. Por que isso acontece? Em boa medida porque a eleição municipal não é uma eleição cujos argumentos ideológicos são tão fortes”, finaliza Cervi.
Informações: RicMais / por Jorge de Sousa
Foto: Roberto Dziura Jr/AEN)