Freud, “pai da Psicanálise”, percebeu durante seus atendimentos que o fator determinante não era a realidade dos fatos, mas sim a realidade psíquica, ou seja, o relevante não era o que aconteceu e sim como a pessoa “entendeu” os acontecimentos. Este foi um grande marco no desenvolvimento da teoria psicanalítica que deu relevância a realidade psíquica, constituída pelos desejos inconscientes e pelas fantasias a ela vinculadas. Com esta mudança teórica, surge também uma modificação no conceito de infância, que se antes era vista a partir de um registro genético e cronológico agora passa a ser abordada pela lógica do inconsciente. Tempos depois Freud admitiu que o tratamento feito em adultos deve ser feito de maneira distinta em crianças, sendo necessária uma série de adaptações na técnica, em função da constituição do mundo interno de cada um deles.
Ao longo dos anos, diversos autores trouxeram contribuições nos estudos do brinquedo como um meio para investigar e intervir clinicamente. De acordo com Freud (1909/1996, p. 135) ao brincar, a criança é como um escritor, “cria um mundo próprio, ou melhor, reajusta os elementos de seu mundo de uma forma que lhe agrade”. Através do brinquedo e das brincadeiras, as crianças expressam os seus sentimentos, conflitos e dificuldades, elaborando situações traumáticas que não conseguiria transmitir pela fala. O atendimento infantil é uma oportunidade dada à criança libertar seus sentimentos e problemas através do brinquedo, da mesma forma que, em certas formas de terapia para adultos, o individuo resolve suas dificuldades falando.
No atendimento clínico infantil é através do brinquedo e das brincadeiras, que as crianças expressam os seus sentimentos, conflitos e dificuldades, elaborando situações traumáticas que não conseguiria transmitir pela fala. Durante a sessão, o terapeuta faz uma interpretação dentro de uma visão psicanalítica do que é apresentado ou trazido pela criança enquanto brinca. Assim, durante a sessão, o mesmo brinquedo ou brincadeira recebe outra significação, que diverge da visão de uma pessoa leiga, pois ali está servindo como um instrumento de investigação e intervenção clínica, sendo assim interpretado pelo psicanalista como algo que a criança está querendo comunicar e não simplesmente brincando por brincar como poderia parecer, desta forma é por meio do brincar da criança e das interpretações que o analista faz em cima deste brincar que vai se constituindo o processo terapêutico na clínica com crianças.
Obra citada:
FREUD, S. (1909) Análise de uma fobia em um menino de cinco anos. Em: FREUD, S. Obras psicológicas completas de Sigmund Freud: edição standard brasileira. Rio de Janeiro: Imago, 1996.