O Centro Europeu de Controle e Prevenção de Doenças (ECDC) elevou o risco de mpox no continente depois de a nova cepa mais grave do vírus, que levou a Organização Mundial de Saúde (OMS) a decretar emergência, chamada de Clado 1b, ter sido detectada na Suécia.
Segundo uma nova avaliação da autoridade, o risco passou de “baixo” para “moderado”. Além disso, em nota, o ECDC destacou ser “altamente provável” que a Europa tenha mais casos importados da doença pela nova variante.
“Como resultado da rápida disseminação desse surto na África, o ECDC aumentou o nível de risco para a população em geral na Europa e para os viajantes às áreas afetadas. Devido aos estreitos vínculos entre a Europa e a África, devemos estar preparados para mais casos importados do Clado 1”, disse Pamela Rendi-Wagner, diretora do ECDC, no comunicado.
O órgão pondera que a probabilidade de transmissão sustentada dentro do continente ainda é baixa, mas “desde que os casos importados sejam diagnosticados rapidamente e as medidas de controle sejam implementadas”. Para isso, recomendou que os países orientem pessoas que vão ou que retornaram de áreas mais afetadas na África sobre o risco alto de contágio no local.
Caso na Suécia
Nesta quinta-feira, a Agência Sueca de Saúde Pública confirmou o primeiro caso do Clado 1b fora do continente africano. Segundo disse Magnus Gisslén, epidemiologista do órgão, o paciente foi infectado enquanto esteve numa região da África onde “há um grande surto do Clado 1 da mpox”, sem especificar qual país. Ele buscou atendimento na região da capital sueca, Estocolmo.
“Esse caso, por si só, não exige medidas adicionais de controle de infecção, mas levamos muito a sério o surto de mpox do Clado 1. Estamos o monitorando de perto e preparados para tomar medidas de controle da infecção, como rastreamento, testes e regras de conduta”, continuou Gisslén.
No X, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, disse que a identificação do Clado 1b na Suécia “ressalta a necessidade de os países afetados combaterem o vírus juntos”. “Incentivamos todos os países a aprimorar a vigilância, compartilhar dados e trabalhar para entender melhor a transmissão; compartilhar ferramentas, como vacinas; e aplicar as lições aprendidas em emergências de saúde pública anteriores de interesse internacional para lidar com o surto atual”, continuou.
O diretor regional para Europa da OMS, Hans Kluge, disse que “era apenas uma questão de tempo” até que o Clado 1 se espalhasse para outros países. “Como observamos anteriormente, era apenas uma questão de tempo até que o Clado I da mpox (…) fosse detectado em outras regiões da OMS, dado o nosso mundo interconectado (…) Mais uma vez, a OMS/Europa pede a todos os 53 Estados Membros da Europa e da Ásia Central que aprimorem a vigilância”, escreveu.
Nova emergência global
A mpox é uma infecção viral endêmica em alguns países da África Central e Ocidental e semelhante à varíola humana erradicada em 1980. Em 2022, a doença foi registrada pela primeira vez fora da África, causando a disseminação global que levou a OMS a decretar emergência na época.
Embora os casos globais tenham caído desde então, a doença continuou a circular pelo mundo – no Brasil, foram mais de 700 casos em 2024, segundo o Ministério da Saúde. A preocupação agora, no entanto, é porque a versão do vírus que se propaga na África e foi detectada na Europa não é a mesma daquela do surto anterior, mas sim uma mais letal.
A mpox é dividida em duas linhagens principais, o Clado 1 e o Clado 2. A cepa responsável pela emergência de 2022 foi a 2, que é mais branda, com uma mortalidade de até 1%. Sua maior transmissão foi associada à aquisição da capacidade de se disseminar via relações sexuais, numa mutação que recebeu o nome de Clado 2b.
No fim do ano passado, porém, a OMS identificou uma nova versão do Clado 1, linhagem cuja mortalidade é de até 10% e que circulava principalmente na República Democrática do Congo (RDC). Ela também passou a se disseminar via redes de transmissão sexual. Essa nova variante foi nomeada de Clado 1b e ligada a uma explosão de casos e mortes no país neste ano.
Na RDC, o número de infecções chegou a mais de 14 mil infectados em 2024, além de 524 mortos, impulsionados. Além disso, o Clado 1b provocou mais de 100 casos em quatro países vizinhos que nunca haviam lidado com infecções pela mpox, nem mesmo pela cepa anterior: Burundi, Quênia, Ruanda e Uganda.
Informações: O Globo