Nossos filhos podem estar sendo condenados a tornarem-se mais um “meia boca” na vida. Este pensamento me ocorreu quando relia o primoroso texto “Perspectivas”, de Humberto Rohden, sobre o conceito de educação. O termo “Educar”, observa, tem origem no verbo latino educare, derivado de educere, que quer dizer “eduzir”, conduzir para fora. Ou seja, despertar em si elementos positivos que se achavam adormecidos. E o educador, segundo ele, deve ser um “edutor”, “alguém que “eduz” do educando o que nele dormita de melhor.
Nessa perspectiva, de uma educação voltada à dimensão integral do ser humano, só estará verdadeiramente educado aquele que conquistou o domínio sobre a vontade, e desenvolveu a consciência de permanentemente extrair de si o melhor. O que o faz ultrapassar a média do que a maioria faz.
E quem assim age, se destaca e até , por vezes, é comparado a um gênio. Um deles, Einsten, dizia que o gênio é composto de 90% de transpiração, trabalho dedicado, e apenas 10% de inspiração, ou o que se denomine de genialidade. João Gilberto, um dos criadores da bossa nova, ganhou fama de folclórico no meio artístico pelo hábito de trancar-se em seu apartamento quando está trabalhando uma canção. E ali, pacientemente “lapida” sua obra até torná-la mais uma pérola de suas fantásticas criações. O premiado escritor Milton Hatoum, faz o mesmo para escrever os seus livros. O cronista Daniel Piza o define, em artigo publicado no ESTADÃO (16.07.2011), como um escritor cuidadoso e meticuloso e, mais ainda, um revisor exigente. Ele busca sempre “chegar aonde não chegou”. Atualmente, Hatoum está revendo pela quarta vez seu romance O Lugar mais Sombrio, que lançará em breve. Nos esportes há expressivos exemplos de gigantes de determinação na busca permanente pela superação. Conta-se que quando o navegador Amyr Klink concluiu sua histórica e solitária viagem à Antártica, foi questionado quanto ao próximo desafio. A próxima viagem, respondeu!”
A educação atual apresenta o perigo de condicionar para o “fazer apenas para o gasto”, servindo-nos de conhecida expressão popular, que ajuda a compreender tal mentalidade. Isto quando reforça ideias que levam ao contentamento com resultados parcos, mesmo que sofríveis. Na escola, é a ênfase para o alcance da média, como principal objetivo. O que reforça o senso de acomodação, porque o objetivo já teria sido atingido. E vão sendo formadas gerações de pessoas acomodadas e de visão limitada.
Registre-se, que esta reflexão não tem por escopo reforçar a avaliação classificatória nem a busca de notas como principal meta do processo educacional. Mas enfatizar a importância da retomada do significado de Educere, sobretudo em uma época tão rica de possibilidades e oportunidades.
Quem se sente seguro com a sua vida nas mãos de um “meia boca” , seja ele um cirurgião, piloto de avião, engenheiro ou advogado? Atente-se que os termos média, mediano e medíocre têm a mesma raiz etimológica, sendo condições que se encontram muito próximas. Daí a importância de uma educação que ajude a desenvolver o domínio sobre a vontade, e que incentive a busca permanente da superação dos próprios limites.
Educere!
Pense nisso!
*Cláudio Silva é mestre em Educação, ex- presidente da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação-UNDIME/PR, foi Secretário de Educação de Apucarana-PR (gestões 2005-2008 e 2009-2012 ) e Secretário de Ensino Superior ( 2012)