“O amigo ama em todos os momentos; é um irmão na adversidade“ (Prov.17,17)
Nos últimos trinta dias você visitou ou recebeu a visita de algum amigo, simplesmente por ser seu amigo ? Aqui pode estar sendo aceso o sinal vermelho, que o coloca no grupo dos que, como eu, estamos correndo o risco de chegar ao fim dos nossos dias sozinhos, por não termos construído relações duradouras ! “Se um cair, o amigo pode ajuda-lo a levantar-se. Mas pobre do homem que cai e não tem quem o ajude a levantar-se!” ( Eclesiastes 4,9-10)
Um amigo me relatava que estava preocupado com o sogro, viúvo, que está ficando cada dia mais triste e depressivo. Já não pode trabalhar por conta da idade e passa os dias sentado em uma cadeira na calçada de casa. Reclama que não tem com quem conversar e que ninguém vai visitá-lo. Por conta do temperamento difícil não construiu relações sólidas nem mesmo com os mais próximos, esposa e filhos, e muito menos com parentes e conhecidos.
Sem perceber foi se distanciando justamente de quem mais deveria ter se aproximado, e agora percebe que essas eram as relações que mais deveria ter cultivado com zelo e carinho. Hoje, uma lágrima rola silenciosa ao constatar o quanto viveu enganado, radical em sua forma de ser. Não se preocupava em ofender quem quer que fosse com os seus posicionamentos sempre “do contra” e polêmicos, e repetia com a boca cheia, “quem quiser que me aceite ”, “os incomodados que se mudem”, “vão ter que me engolir” e expressões do gênero. O que os outros pensavam não o interessava, aliás, para ele todos estavam errados.
Ao se isolar “no seu canto”, para curtir com sossego as suas coisas, achava que estava garantindo um direito exclusivo conquistado por merecimento. Filhos e esposa incomodavam, e de parentes queria distância. O tempo foi passando , e sem perceber, foi matando a própria vida aos poucos, dia após dia. Como se arrepende, hoje confessa! Principalmente, ao também constatar que quando teve pessoas ao seu lado, principalmente em situações de trabalho ou diversões, esteve cercado de gente que ali estava movida por outros interesses. E que naturalmente, com o tempo foi se afastando. “Quem se isola procurará seu próprio desejo egoísta e se irritará contra tudo o que é razoável” ( Prov. 18,1)
Terminar os seus dias no ostracismo deve ser uma experiência muito triste, depois de uma vida de lutas, mas que se descuidou do essencial. Ouvi certa vez de alguém que numa capela mortuária, eram tão poucas as pessoas que velavam determinada pessoa, que foi necessário pedir voluntários no velório do vizinho para ajudar a carregar o caixão!
Atualmente, mesmo com as possibilidades de comunicação instantânea entre as pessoas pelas vias digitais, algumas optam pelo que poderia ser denominado de isolamento digital. Em tempos de depressão , determinados casos não configuram tentativa de fuga, ou uma forma de “suicídio digital”? Com a palavra os psicólogos. Porque ao optar pela distância e isolamento, é como se decidissem “deixar de existir” neste universo de conexões. Não poderia já estar sendo um sintoma capaz de deflagar algo bem mais grave? Pensemos. Não se pode deixar de pesar os excessos no trato com as mídias sociais, com os quais nos deparamos quase que diariamente, pelo Face, Whatsapp e Instagram, para citar. Mas a auto exclusão radical também merece ser analisada num contexto bem mais amplo.
Para assinalar a importância do tema, decidimos fechar esta reflexão com a, ao nosso ver, mais famosa declaração de amizade já feita ao gênero humano: “Já não os chamo servos, porque o servo não sabe o que o Senhor faz. Em vez disso, eu os chamo de amigos, porque tudo o que ouvi de meu Pai eu tornei conhecido a vocês”.( Jo 15,15)
Pense nisso.
*Cláudio Silva é mestre em Educação, ex- Secretário de Educação de Apucarana-PR e ex- presidente da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação-UNDIME/PR. Diretor da Escola Nossa Senhora da Alegria. (mais textos do professor poderão ser acessados no Blog Prof. Cláudio Silva )