Marielle, foi talvez o nome mais comentado nas últimas semanas, inundando os noticiários com fatos novos, reportagens, e entrevistas, e alimentando manifestações acaloradas pelas redes sociais .
O assassinato da vereadora carioca, horrendo como todos os atentados à vida, foi também mais uma oportunidade para fazer aflorar um fenômeno cada vez mais recorrente nos últimos tempos, o radicalismo de posições e consequente repulsa e até ódio ao diferente ou divergente. Em nome desse sentimento, chega-se por vezes ao extremo do linchamento moral e/ou físico, no caso Marielle, os dois.
Individualismo, radicalismo, conexões através de redes sociais, são pelo menos em parte, características do tempo em que vivemos, chamado de modernidade líquida, na definição do sociólogo polonês Zygmunt Bauman. “É uma época de liquidez, de fluidez, de volatilidade, de incerteza e insegurança… Na sociedade contemporânea, emergem o individualismo e a efemeridade das relações.” O homem moderno vive ao mesmo tempo conectado e isolado. Os laços humanos são cada vez mais superficiais e consequentemente frágeis.
A angústia, segundo o citado pensador, um dos frutos da incerteza característica dos tempos atuais, “pode gerar ódio a tudo e a todos.” Um sentimento cada vez mais perceptível e que vai de manifestações agressivas em redes sociais à guerras de torcidas, dentre outras faces da crescente violência. Em São Paulo foi até determinado pela justiça a “torcida única”, para tentar coibir a violência nos estádios. Futebol, política, ideologia, religião, dentre outros assuntos, passaram a ser temas perigosos em certas circunstâncias, pois as consequências podem ser imprevisíveis.
A celebração da Páscoa, que ainda ecoa, no sentido da ressurreição de Jesus Cristo, é um tempo propício para uma auto avaliação sobre até que ponto esse clima de violência não está também contaminando e afetando as nossas relações, talvez até a partir dos nossos próprios lares. Jesus é exemplo vivo de vítima da intolerância no seu tempo. A grande mensagem dessa celebração para os cristãos é de que, após a vivência de um período de quarenta dias do tempo quaresmal de reflexões, orações e práticas espirituais, possamos emergir melhores para a sequência da caminhada da vida.
“Como Cristo foi ressuscitado dos mortos pela ação gloriosa do Pai, assim também nós vivamos uma vida nova”( Rom 6, 4b)
Pense nisso!
*Cláudio Silva é mestre em Educação, ex- Secretário de Educação de Apucarana-PR e ex- presidente da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação-UNDIME/PR. Diretor da Escola Nossa Senhora da Alegria. (mais textos do professor poderão ser acessados no site www.profclaudiosilvaeducacional.com )