Muitas mães procuram auxílio com a queixa que o leite não desceu, mas o que isso significa? Existe a possibilidade de a mãe não ter leite ou é apenas mais um mito entre tantos que deixam as mães tão preocupadas e inseguras? O leite realmente precisa descer no primeiro dia após o parto? Vamos discutir um pouco sobre essas questões.
Inicialmente é importante informar que o leite materno é leite desde o primeiro dia após o parto; a questão é identificar os diferentes tipos de leite, suas características próprias, adequadas às necessidades dos bebês e suas mudanças de acordo com o período da lactação. O colostro desce no primeiro dia, mas como veremos, ele é concentrado e em pequena quantidade e isso pode gerar confusão, pois quando se fala em leite o que é considerado é o leite de transição! O colostro é leite, o leite de transição é leite e o leite maduro é leite, só que com volumes, coloração e com constituções diferentes.
Após o nascimento, com a saída do bebê e da placenta, os níveis de prolactina (hormônio que fabrica o leite) e a ocitocina (hormônio de liberação do leite) estão em altos níveis e permanecem assim por alguns dias após o parto, por isso nos primeiros dias o leite liberado é o colostro.
O colostro é o primeiro leite, que estará presente entre o primeiro e sétimo dia após o parto, mas geralmente até o terceiro dia. É um leite concentrado, com aspecto amarelado, com grande quantidade de anticorpos, por isso é dito que é como uma primeira vacina para o bebê. Seu volume é pequeno – 3-5 ml por mamada, pois é exatamente a capacidade do estômago do recém-nascido.
É difícil retirar esse leite em comparação com os leites dos próximos dias, exatamente por ser concentrado, por isso não é parâmetro de volume produzido o volume ordenhado. Além disso, a grande maioria do leite é produzido durante a mamada, por isso a mulher não precisa se preocupar: esse leite possui qualidade e quantidade perfeitamente adaptadas ao recém-nascido.
Para aumentar, paulatinamente, o volume do colostro, é só amamentar com frequência, em livre demanda, sempre que o bebê solicitar, pois após alguns dias é o estímulo mamário do bebê (sucção) que promoverá a produção e liberação de leite materno. Em geral não há necessidade de complementação do colostro com leites artificiais.
Além de não haver necessidade na grande maioria dos casos, o uso de complementos precocemente pode trazer alguns riscos à amamentação e à saúde do bebê:
O volume de leite complementado pode distender o estômago do recém-nascido. Com isso, o volume de colostro não será mais suficiente, o que gera um ciclo vicioso de uso de complemento que pode levar ao desmame precoce, especialmente quando há grandes volumes de complemento (20-30ml)
A ingestão de complemento pode fazer com que o bebê necessite de intervalos maiores para a digestão e com isso sugará menos na mama, gerando outro ciclo vicioso de redução de estímulo da mama e com isso, redução da produção.
A ingestão de leite artificial pode sensibilizar o lactente e favorecer a alergia à proteína do leite de vaca precocemente.
Entre 3-7 dias ocorrerá a apojadura, que é a descida do leite de transição em grande quantidade. É denominado de descida do leite, mas pode haver erro de interpretação, já que o leite já é produzido após o parto em forma de colostro. Muitos profissionais, erroneamente, referem que o leite deve descer no primeiro dia, mas isso não é fisiológico. O colostro deve ser liberado nos primeiros dias, depois o leite de transição e, finalmente o leite maduro.
Na apojadura é o leite de transição que é liberado e este leite é mais esbranquiçado que o colostro e se adapta às necessidades de gorduras, anticorpos, vitaminas e lactose. Após 15 dias aproximadamente, será liberado o leite maduro, que será o leite produzido durante todo o período de lactação.
A apojadura é caracterizada pela produção láctea em grande quantidade, pelo fato do organismo não conhecer as necessidades de ingestão do recém-nascido. O leite em excesso que permanecer na mama estimulará o fator inibidor da lactação e, com o tempo, a produção será reduzida e finalmente adaptada às necessidades do lactente. Entre 2 e 3 meses, a mãe não sentirá mais a mama encher, endurecer, ficar dolorida ou vazar nos intervalos e isso é completamente normal. O organismo agora se adaptou à demanda de leite necessária para alimentar o bebê.
Algumas mulheres simplesmente não apresentam apojadura e isso não se configura em um problema; elas simplesmente já iniciam a lactação com o volume adaptado às necessidades do bebê. Isso não quer dizer que a mulher não produz leite suficiente ou que haja algo errado com seu organismo. Também não significa que o bebê precisará de complemento, pois o volume é o que ele necessita.
Para se certificar que o bebê está recebendo leite de acordo com suas necessidades a mãe pode prestar atenção a algumas situações:
– várias fraldas molhadas, pesadas, sem cheiro e coloração
– bebê com ganho de peso (ainda que não seja 35 g/dia)
– bebê ativo, com olhar atento, com ritmos de sono e vigília
– bom desenvolvimento
A confiança no próprio corpo e na capacidade de alimentar e nutrir o próprio filho é importante para a mulher não se deixar levar por orientações equivocadas, baseadas em experiências pessoais ou orientações que não levem em consideração a fisiologia da lactação. Caso haja dúvidas, é importante buscar ajuda de um consultor em amamentação ou Banco de Leite Humano.
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