Certo dia, eu estava em um museu de artes e, transitando pelos enormes corredores repletos de quadros e pinturas, deparei-me no final do corredor central com um pequeno quadro colocado às sombras, um pouco torto. A princípio não achei aquilo bonito, não. Nem fiquei entusiasmado para saber o nome do autor daquele “feito”. Mas foi a obra que mais me atraiu a atenção naquele lugar, justamente por seus detalhes diferentes (e não mais estranhos, como julguei à primeira vista). Fiquei vários minutos olhando para aquele quadro na velha moldura.
Que situação complicada apresentava-se diante de meus olhos pelos quais minha compreensão não conseguia decifrar o que o artista queria transmitir ou retratar! Não era abstrato, não era barroco. Por tantas linhas e curvas, pude ver algumas faces que lembrava uma família. Seria a família de Jesus Cristo? Não, não era. Observei por vários pontos de vista, vários ângulos, cheguei perto, toquei e… senti a delicadeza da obra… Me arrepiei! Na verdade era um quebra-cabeça e suas peças estavam embaralhadas de maneira a não formar a imagem perfeitamente.
Aquilo pôs-me à refletir sobre as nossas vidas, que se assemelham bem à um quebra-cabeça, onde nem todas as peças estão dispostas da forma correta, apesar de se encaixarem umas às outras. Aliás, nem todo quadro de família é perfeito, não é verdade? E nem todas as faces que brilham é porque recebem luz do dia. E como se já não houvesse como ficar pior, na maioria das vezes o quadro é pendurado tortinho na parede do tempo, moldado com costumes e tradições familiares. Mas não há de se mover as peças, para não perder a originalidade.
Talvez tenha sido a única maneira das peças se encaixarem umas às outras, que outrora haviam sido tiradas de outras obras maiores. Acredito que nosso quadro familiar seja assim, aumenta de tempo em tempo, à medida em que novas peças encaixam-se e somam-se à nós. Nossa vida vai tomando faces e formas diferentes a cada dia. É como dizem por aí: “Até as pedras se encontram”. E, vendo assim, tudo se torna lindo e atraente, não pelo desconcerto, mas pelos singelos detalhes entrelinhas. O diferente torna-se especial, recebendo muitas vezes, espaço no corredor central das oportunidades. Certamente o autor trabalhou muito e caprichou nesta obra. O autor? Ora… O autor é Deus! Motivado pelo amor à Criação!
ROGÉRIO, André Ricardo
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