Documentos da Polícia Federal e da Justiça mostram em detalhes as ações do grupo suspeito de planejar o sequestro do ex-juiz e de outras autoridades.
Uma série de documentos da investigação que apura o plano para sequestrar o senador Sergio Moro (União-PR) mostra detalhes das ações do grupo criminoso. A Justiça retirou os sigilos sobre esses documentos na quinta-feira (23).
Uma operação foi deflagrada na quarta-feira (22) para cumprir mandados judiciais contra suspeitos de envolvimento no esquema. O g1 elaborou uma cronologia do caso com detalhes das investigações.
A linha do tempo a seguir foi desenhada a partir de informações de relatório da Polícia Federal (PF), enviado à 9ª Vara da Justiça Federal em Curitiba, e de decisões da juíza Gabriela Hardt emitidas na terça-feira (21) no âmbito das investigações. Confira abaixo.
▶️ 2 de fevereiro de 2023: uma testemunha protegida pela Justiça depôs ao Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado, do Ministério Público de São Paulo.
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Mensagem que indicou ameaça de sequestro de Moro mostra momento que suspeitos definem códigos para o crime — Foto: Foto: Stephanie Rodrigues/g1
- A testemunha disse ser ex-integrante do PCC e estar jurado de morte pela facção, que atua dentro e fora de presídios brasileiros.
- A testemunha relatou aos promotores que uma célula da facção, responsável por crimes contra autoridades e agentes públicos, planejava cometer um ataque contra Moro e outras pessoas. Ela também indicou telefones de suspeitos.
- Um dos suspeitos citados pela testemunha é Janeferson Aparecido Mariano Gomes, apontado como líder do plano e integrante de célula do PCC chamada “Restrita 05”.
▶️ Início do inquérito: o Grupo Especial de Investigações Sensíveis da PF abriu inquérito, em 3 de fevereiro, para apurar “possível plano de sequestro de autoridade pública”.
- A partir dos números de celular informados pela testemunha, a Justiça autorizou interceptações telefônicas e quebras de sigilo das linhas.
- Além disso, a partir dos celulares, foram identificados e-mails que ajudaram a comprovar a ligação dos números com Janeferson, considerado o arquiteto do plano. A investigação comprovou que os e-mails são de pessoas ligadas ao narcotráfico e ao PCC.
- Os e-mails levaram à troca de mensagens por aplicativo entre a suspeita Aline Maria Paixão e Janeferson, com quem teria relação amorosa. A mensagem, segundo a investigação, indicou existência “real” do plano de sequestrar Moro.
- O codinome “Tókio”, segundo a polícia, refere-se ao ex-juiz. Já “Flamengo” quer dizer sequestro. Confira na imagem abaixo.
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Print de mensagem que constatou possível sequestro de Sergio Moro — Foto: Reprodução
Planejamento do crime
A polícia conseguiu rastrear uma troca de mensagens com prestações de contas do grupo indicando gastos para o planejamento do crime. Entre as despesas estão alugueis de imóveis, viagens, alimentação, combustível, armas, carros, etc. Veja na imagem abaixo.
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Print mostra anotações de suspeitos sobre gastos que teriam em crime contra Moro — Foto: Reprodução
Além disso, análise dos e-mails feita pela polícia identificou ações concretas no andamento do plano, como mapeamento e vigilância das atividades de Moro.
▶️ Veículo para o crime: A polícia identificou em troca de emails várias fotos de carros, entre eles uma Mercedes blindada.
- O carro, segundo as investigações, poderia ser usado na execução do plano.
- O veículo foi vendido recentemente a uma pessoa apontada como pai de Hemilly Adriane Mathias Abrantes, uma das suspeitas.
- Hemilly já foi presa por furto qualificado. Ela é casada com um membro do PCC, sendo que o irmão dela também tem ligação com a facção.
- O marido da suspeita está preso na Penitenciária Estadual de Piraquara, que abriga exclusivamente integrantes do PCC, segundo a investigação.
▶️ Caderno e Curitiba: Imagens que indicam os controles de gastos do grupo levaram a investigação ao codinome “Tókio” e ao nome da cidade de Curitiba.
- Em conta de armazenamento em nuvem associada a Janeferson, a investigação encontrou uma conversa com a suspeita Aline de Lima Paixão.
- Na troca de mensagens aparece foto de caderno com anotações sobre Moro.
- Outra mensagem informa o mapeamento detalhado do local de votação do então candidato, em Curitiba. Confira nas imagens a seguir.
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Caderno dos suspeitos tinha controle de endereços de Moro e da família — Foto: Reprodução
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Grupo detalhou local de votação do então candidato — Foto: g1
▶️ Celular rastreado: A investigação interceptou conversas do suspeito Claudinei Gomes Carias, apontado como um dos principais responsáveis pela vigilância da rotina e das rotas do senador, assim como pela prestação de contas.
- A polícia descobriu que o terminal do celular do suspeito foi utilizado em Curitiba em 24 de novembro e em 1º de dezembro de 2022.
- Pelas coordenadas apuradas, o aparelho esteve na região do bairro Bacacheri, onde fica o local de votação de Moro.
- A polícia também identificou atividades do aparelho na região tida pela facção como casa do senador e do Escritório Wolf Moro, que é da deputada federal e esposa do ex-juiz, Rosângela Moro (União-SP).
▶️ Ligações e locações de imóveis: Prints de chamada em grupo feita por vídeo no WhatsApp mostraram membros da cúpula do PCC na articulação do plano.
- Um dos membros é apontado pelo governo federal como um dos responsáveis pela logística do plano de fuga de Marcola da Penitenciária 2 de Presidente Venceslau, em 2014.
- A interceptação de linhas telefônicas identificou várias chamadas para números de Curitiba, principalmente relacionadas a imobiliárias e à procura de casas e chácaras.
- A investigação mostrou que tais contatos tinham relação com locação de imóveis que serviriam como base para o grupo, bem como para um possível cativeiro em caso de êxito no sequestro.
▶️ Tentativa durante eleições: A polícia destacou contatos feitos de 20 a 28 de outubro de 2022, período que antecedeu o segundo turno das eleições presidenciais. Para a investigação, isso reforça a intenção da facção em executar ações criminosas à época.
- A polícia fez investigações em apartamento no bairro Jardim Botânico, em Curitiba.
- Em conversa com os condôminos, uma moradora lembrou que, durante setembro e outubro de 2022, três homens se hospedaram em apartamento.
- Segundo a moradora, por volta do dia 21 de outubro, “de uma hora para outra”, os homens abandonaram o local sem comunicar nada e sem pagar o devido aluguel.
- A investigação identificou que entre moradores do imóvel estavam Janeferson e Claudinei.
▶️ Plano ainda em andamento: vídeo de 3 de fevereiro de 2023, atribuído a Claudinei, mostra fachada de prédio indicado como possível endereço de Moro.
- Para a polícia, o vídeo demonstra que o plano de atentado contra o senador ainda estava em andamento, neste ano.
- Ao decretar os mandados de prisão e busca e apreensão, na última terça-feira (21), a juíza Gabriel Hardt cita que “as provas colhidas indicam que atos criminosos estão efetivamente em andamento” em Curitiba há pelo menos seis meses.
- A juíza cita ainda que o plano contava “com a presença física dos investigados, compra de veículos, aluguel de imóveis e monitoramento de endereços e atividades do senador Sergio Moro”.
Informações: G1