Pela primeira vez em quase 20 anos, pacientes com Alzheimer ganharam um novo tratamento. Não se trata ainda de uma cura para a doença neurodegenerativa, mas de um medicamento que atua contra uma das prováveis causas da condição e que, possivelmente, ajudará a controlar o avanço dos sintomas, ou talvez até a regressão dos mesmos.
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Desenvolvida pela farmacêutica Biogen, a medicação Aduhelm – um anticorpo monoclonal chamado de aducanumab – recebeu a liberação da agência regulatória norte-americana, o FDA, nesta segunda-feira (7). A aprovação, no entanto, está condicionada à continuidade dos estudos clínicos e à confirmação de que a substância é capaz de agir contra o Alzheimer, com benefícios cognitivos. Caso o estudo falhe, a aprovação poderá ser revogada.
As condicionantes foram impostas porque o aducanumab passou por três estudos clínicos, sendo que dois foram paralisados por falta de evidências de benefício. Um comitê independente alertou o FDA de que a medicação não teria indícios significativos de ação, mas outros pesquisadores argumentam que os benefícios encontrados durante a revisão dos dados seriam suficientes.
Como os pacientes estavam sem nenhum avanço há quase duas décadas, a liberação foi dada. Outro detalhe que pesa à favor da substância é que se trata de um remédio totalmente diferente dos disponíveis atualmente para o Alzheimer.
Como o aducanumab age contra o Alzheimer?
Os pesquisadores que estudam o Alzheimer ainda não têm absoluta certeza de qual é a causa da doença, mas eles sabem de alguns sinais indicativos. Entre eles, o acúmulo de proteínas em partes específicas do cérebro, em geral relacionadas à memória.
O agrupamento dessas proteínas leva à morte das células do cérebro (os neurônios) naquela região. Embora não se saiba se esse acúmulo é ou o que gera a doença, ou é consequência dela, a retirada das proteínas poderia trazer um controle do quadro degenerativo. E esta é a proposta do aducanumab.
A substância, chamada de anticorpo monoclonal, é um anticorpo produzido em laboratório a partir de uma única célula e que é capaz de agir contra um antígeno (substâncias estranhas ao corpo humano que geram a produção de anticorpos). No caso do aducanumab, o antígeno a ser perseguido é a proteína beta-amiloide.
Pacientes com Alzheimer podem ter o acúmulo da beta-amiloide, mas também de outras proteínas, como a tau. Para que o aducanumab tenha efeito, ele deve ser administrado apenas entre aqueles com a presença da beta-amiloide – e esta é uma das restrições do tratamento.
“A infusão do aducanumab faria uma limpeza da proteína nessas áreas no sentido de atuar na causa da doença, e que a pessoa tenha uma melhora, uma regressão do quadro degenerativo. Mas ainda não sabemos se isso é suficiente para a pessoa não ter mais o Alzheimer”, explica Amanda Machado, médica neurologista e pesquisadora de tratamentos de demência e da doença do Alzheimer, preceptora de residência e uma das coordenadoras do ambulatório de Distúrbios de Memória do Hospital INC, em Curitiba.
Pacientes específicos do Alzheimer
Além de ter o acúmulo apenas da proteína beta-amiloide, os pacientes que poderão ser beneficiados com o aducanumab devem estar em fases iniciais do Alzheimer. Depois de consolidada a doença, a medicação não terá mais efeito.
“O único problema é que a gente precisa usar em fases iniciais da doença, que muitas vezes o paciente nem sabe que tem, para poder ter um benefício clínico. E esse benefício também não é grande”, destaca Gustavo Franklin, médico neurologista do Hospital das Clínicas da Universidade Federal do Paraná (HC/UFPR).
Segundo o especialista, a redução na quantidade da proteína no cérebro é significativa, mas isso não parece se refletir em uma redução nos sintomas ou na qualidade de vida do paciente. Nos estudos clínicos, os testes de cognição e função demonstraram diferença de uma fração de 1 ponto entre a medicação e o placebo, em uma escala de 18 pontos.
“A redução da proteína é grande, mas clinicamente, nos sintomas, não encontra a mesma proporção. O objetivo não é só melhorar o exame, mas o paciente. Então, é um avanço [a medicação], e estamos em um caminho. Esperamos que no futuro [o benefício] fique mais claro, que esse remédio seja realmente útil ou que venham outros, semelhantes”, explica Franklin.